terça-feira, 18 de maio de 2010

O lírio do meu jardim


Sei que virá. Pois é tua sina, o eterno retorno. Indultaremos-nos da condenação ao relento, ao pântano das ausências, com suas flores amorfas. Das ruínas do impossível surgirá lindo, a alma tatuada de esperanças, o destino marcado para pertencer, as febres eriçando os pelos, a fome de retirante a espera de ser saciada. E surgirá de uma beleza indescritível, a língua com novos dialetos, a linha de meu horizonte na curva dos lábios, o riso de gerar chuvas de espanto e amores.



Eu me prenderei ao anzol de teu cio e não respeitarei as hierarquias de teu corpo e me deixarei em exilo no fluxo das marés de teu ventre. Descansarei no vão do teu peito - animal alado em vôo-, da luta de incriminar as rotas de teu corpo, navegadas sem cais e ordem, das indecências de nosso amor. Eu te sagrarei santo, e tu pecará, pelo meu prazer. Eu me farei devassa para resgatar a porção clandestina de tuas vontades e tu se vestirás de lírios e terá cheiro de banho e lavanda.



Na vertigem abissal de tua dança de acasalamento e sedução, e na fartura precisa e exata de tua forma, inscreverei as escrituras de tua permanência, e com o alfabeto de teus encantos, e o sargaço do mar de liames que banha teus olhos, tecerei a cartilha por onde irei rezar. Tu deixarás pai e mãe e eu deixarei pai e mãe, porque a vida se despedaça na tua falta. Inaugurarei tua dinastia, e nos guiaremos pelos luares, para evitar o carpir das despedidas e dos desencantos comuns.



Urdirei tua vida como minha casa, construída peça por peça, e untarei tua pele de meu desejo. Na lavoura de nos amarmos, infindáveis, farei abrigos para te proteger. E cuidarei dos rumores de tuas dores, como minha vindima. Velarei teu sono com o abandono dos amados e quando me acordar, por vontade, saudade, medo da morte ou do fim, e nos jogarmos abraçados nos delitos de nossas bocas insensatas eu saberei enfim, em paz, que você é o lírio mais bonito ..o homem da minha vida

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