domingo, 27 de novembro de 2016



Deslizo os dedos sobre a pele,
página que é invólucro 
do livro chamado ser.
Descrevo o som,
o sono,
o sonho.
A poesia do erro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Não mais ...



Se numa tarde dessas 
A mim voltasses.
E dos teus lábios de batom encarnado
Aquele vento morno, lá do passado,
Avivasse antigas promessas,
Eu ainda acreditaria?

Aquelas que outrora 
Em meus ouvidos sopraras,
Atiçando-me anseios vespertinos
Com juras de vida e destino.
Se fizesses aquelas promessas,
Eu ainda acreditaria?

Sob o eco das palavras, distantes,
Findaram-se as tardes nos montes
Que a esperança erigiu,
Com blocos de dias vazios.
Se voltasses com aquelas promessas,
Não mais acreditaria! 

AD Nov/2016

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Vem ...



Vem ... 
Salva a minha alma desse escuro o qual hábito 
Vem ... 
Coloca um sorriso , mesmo que seja falso nos meus lábios 
Vem... 
Arranca do meu peito essa dor 
Vem...
Troca os meus gemidos de dores pelos de prazer 
Vem ...
Trás teu amor ... Teu vigor ... Teu gosto 
Vem... 
Não te prometo nada , apenas ser tua pelo instante que estivermos juntos 
Vem ...
Me livra do abismo que eu mesmo achei de me jogar 
Vem ...
Salva o meu ano apenas 
Vem ... 
Não faz nada , apenas me acolhe no teu peito 
Vem ... 
Não faz nada , apenas olha para mim 
Vem ... 
Enquanto existe fôlego em minha vida 
Vem ... 
Vem ... 
Nunca pensei que esse verbo fosse ter tanta significância para mim ... 

domingo, 25 de setembro de 2016

Momento por Ari Donato ...


 

 
Há momento que sinto saudade...
Da tua mão no meu corpo;
do teu corpo na minha mão.
 
Há momento que sinto desejo...
Do teu contato de carícia;
da carícia do teu contato.
 
Há momento que sinto falta...
Da macieza do teu ventre;
do teu ventre que amacia.
 

sábado, 10 de setembro de 2016

10 de setembro


"Quantos anos tenho?
Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada. E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer em uma praia.
Quantos anos tenho? Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas, valem muito mais que isso...
O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!
O que importa é a idade que sinto. Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos. Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa? Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto..."

José Saramago

sábado, 3 de setembro de 2016



Eu tenho medos absurdos e coragens absurdas e eu tenho você. Eu tinha coragens absurdas e discursos prontos como quem sabe que precisa se salvar do fatídico cotidiano da entrega. Não é assim que a gente sabe da nossa morte? A gente se entrega àquele segundo de adrenalina correndo pela veia e de repente já não tem mais nada. Escuta aqui, eu dizia, escuta que é o fim da minha vida neste agosto macilento. 

Enumerando todos os meus medos em ordem não-alfabética, risível e perfeitamente humana, não tanto compreensível:

- Medo de não me encontrar estável daqui 10 anos. Medo do abandono de mim mesmo. Medo de não encontrar você daqui 10 anos. Medo de você ter se abandonado.

- Medo de não arrumar emprego ou não conseguir mais empreender ...Sabe como é, o mercado está difícil e a pressão cotidiana do trabalhe-mais-porque-é-preciso tem acabado com as minhas esperanças solúveis de paz. O capitalismo consome a nossa alma e a gente ri.

- Medo de não conseguir escrever. De parar, do nada. De simplesmente não conseguir colocar para fora todas as minhas conversas silenciadas pela agonia do planeta. Eu sinto medo de não conseguir expurgar todas as vezes que me doo, me atiro nas avenidas e não volto.

- Medo de pecar por excesso. De não voltar à tona e surtar. Eu tenho medo de surtar. Eu tenho muito, muito medo de surtar. 

- Medo de não conseguir sobreviver em paz, amando plena e cuidadosamente. Eu tenho medo de não conseguir amar. Você sente isso também? Às vezes, no meu quarto, bate uma secura na alma. Uma vontade de correr. Uma vontade de arrancar qualquer prenuncio que me diga que não sou capaz de amar. Mas se eu amei você, que me abandonou na margem da plenitude, por que não conseguiria amar outro e outro e outro?

- Medo dos sertões estarem dentro de nós.

- Medo do golpe. E são tantos: políticos, sentimentais, afetivos. Eu me lembro de você me preterindo às vezes ... Ainda dói.

- Medo do mundo. Da vida. Das pessoas que, depois do término, viram a cara e esquecem. Passam e já não conversam mais. Faz parte, elas dizem. Faz parte do círculo vicioso da nossa miserável condição fria e inumana.

Coragens tão tolas e medos tão absurdos e eu não tenho você. Isto aqui era pra ser um texto.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

29.08.16 -- 16:30 --


Põe a mão aqui - sem querer te sufocar, essa vida anda me matando. Eu não quero romantizar, já chega os filmes água com açúcar nos cinemas apertados com cheiro de manteiga quente e uns ‘smack, smack’ pra lá e um barulho de cuspe pra cá, e todos os casais que se amam em grande volume e estranho exibicionismo. Eu devo ter uns 40 graus de febre porque sinto cada pedaço ferver como se eu fosse um vulcão ameaçando, ameaçando, agora não, eu jurei que nao ... Não dessa vez!!! 
Põe a mão na cratera que é ter tanto gostar implodido e tão pouco espaço para ser.
 Me dê qualquer amuleto, pedra, folha verde, trevo, santinho, pra que eu possa segurar sem achar que qualquer tremor é queda. Me diz como você faz com isso de sorrir grande e falar baixinho e amar sem medo e dizer que os casais são até bonitos e esse cheiro tem lá seu significado  e que depois vamos rir, e eu já quero saber quando.

Põe a mão aqui. Garganta fervendo, espera maldita, pessimismo entalado na artéria principal que liga a minha realidade e o mundo, eu não tenho o tamanho que pareço e me encolho para qualquer possibilidade despretensiosa que surge através das palavras. Não me adianta as igrejas, os livros de auto-ajuda, as reuniões de quinta-feira, esses filminhos água com açúcar, essa mão subindo no peito, encaixando no vão, o taquicardia que vai acontecendo sem você se assustar. Fervendo, fervendo, o que você dizia mesmo? Paz mundial, paz ... manteiga, moral, reza, amuleto, paz ...gangrena, taxímetro, vértebra? 
Deixa eu amolecer aqui mesmo e adorar todo esse momento em que você põe a mão e me deixa respirar... 


domingo, 28 de agosto de 2016



eu juro que eu tentei ficar 
Na verdade ... Eu juro que estou tentando ...
eu juro que eu tentei ser quem abre a janela e não fecha a porta
quem segura sua mão quando tem um degrau a frente e que segura seu braço quando algum medo chega por trás pra te derrubar 
eu nunca quis ser o medo que chega por trás e te derruba 
eu nunca quis ser o ponteiro que quebra 
o ônibus que você perde
o céu que nubla quando pretende sair 
a sua pressao que sobe 
a sua lista de remédios 
me desculpe me desculpe me desculpe me desculpe 
se eu sou pequena, imperfeita e não sei amar direito 
me desculpe 
se você esperou demais de alguém que não sabe levar um copo cheio de leite até a mesa sem derramar tudo e ter que voltar pra pegar outro 
eu voltei tantas vezes até sua dor, amor, saudade, angústia, desespero, pavor e esperança 
eu só queria que você não jogasse 240 meses 
7.200 dias 
172.800 horas no bueiro da sua grande cidade 
só porque eu não consegui ser sua casa quente depois de um dia terrível ... Daquele dia terrível ..
mas eu já fui a lareira que esquenta seu coração frio de outros nãos 
eu já fui o sofá que você dormiu quando perdia noites e declarações 
eu já fui o tapete que limpou os seus pés de caminhos imundos 
me perdoe por não conseguir ser tudo o que sonhou 
e sendo real e honesta: eu sou insônia demais pro seu sono bonito num sábado ou domingo de carnaval
lembrar de você sempre vai ser uma festa pagã 
(eu quis também que deus me perdoasse)
Talvez eu seja o seu jejum ... 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

“Então compreendi perfeitamente o que gerava a dor. Não era o corte com a ponta da faca, a topada na quina da cama, o amigo que não liga mais, o café que sujou o fogão, as palavras duras, as notícias na tv, obviamente isso soma-se ao fardo, mas não é ele em si. A dor era gerada pela sede insaciável do nada. Pois quando não se tinha o que queria sofria e quando conseguia almejava outra coisa para sofrer. E é por essa sede que os humanos consomem seus dias, pelos futuros que nunca virão ou que serão fadados quando chegarem. E a maior idiotice era perceber: eu também era um desses tais que nunca estava de barriga cheia".

- Fernando Pessoa


domingo, 21 de agosto de 2016

Luís de Camões: Alma minha gentil, que te partiste 


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou 
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

sábado, 20 de agosto de 2016

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Para o meu futuro marido ...


A gente vai conhecendo as pessoas e fica pensando: ai eu olharia para você  uma vida toda se deixassem e te ouviria durante séculos se fosse possível... Horas e horas ... 

daí voce fica rindo porque toda intensidade a gente mensura em tempo
vidas séculos horas... 

e eu acho tão bonito isso de comparar amor a algo que você não controla
aumenta mais minha certeza de que amar é livre
de que amar é uma daquelas grandezas que passam por nós e a gente ri

porque... o que mais podemos fazer?

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

IAo menos eu ensaio ... 




Eu vou embora de você
É oficial dessa vez
Eu já avisei todo meu organismo que te ingere: se preparem para o grande revertério: o alimento será cru da realidade
Não mais engrandecerei sentimentos mesquinhos
Não mais adocicarei suas palavras empobrecidas
Não mais transformarei teu prato branco em meu único banquete do dia
Eu não mais enfeitarei as migalhas
Eu não limparei tuas sujeiras com a esperança do dia seguinte. E as músicas de recomeço e os textos motivacionais
Eu vou embora do seu campo de visão mesmo que ele seja nítido apenas em você
Só em você e teus colarinhos lavados, a caixa de entrada excluída e as desculpas reutilizadas
Eu não tenho medo que você tenha estragado os melhores lugares com a sua lembrança
Eles continuaram a existir mesmo depois de você
Eu é que estou indo
embora.

Hoje você é quem manda, falou, tá falado, não tem discussão, não
A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu,
Você que inventou esse estado, e inventou de inventar toda escuridão
Você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão

Apesar de você amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia
Como vai proibir quando o galo insistir em cantar
Água nova brotando e a gente se amando sem parar

Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro,
Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro
Você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar
Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada neste meu penar

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Há algo maldoso,
em quem se sente forte.

A fama, o título, o dinheiro,
a instituição que o respalda.

Que perversa, 
é a ilusão de força.
Eles nem se amavam, mas tinham neuroses tão complementares, que foram necessários, para sempre...



segunda-feira, 15 de agosto de 2016


Eu queria escrever " preciso de alguém que me tire daqui " 
Nesse momento , nesse dia ... 
Mas sou tomada por devaneios de precisar na verdade de alguém que me tire o fôlego ... Alguém que me faça sentir o que ninguém jamais conseguiu ...
Perdão Deus ! 

Não sou boa com números. Com frases-feitas. E com morais de história. Gosto do que me tira o fôlego. Venero o improvável. Almejo o quase impossível. Meu coração é livre, mesmo amando tanto. Tenho um ritmo que me complica. Uma vontade que não passa. Uma palavra que nunca dorme. Quer um bom desafio? Experimente gostar de mim. Não sou fácil. Não coleciono inimigos. Quase nunca estou pra ninguém. Mudo de humor conforme a lua. Me irrito fácil. Me desinteresso à toa. Tenho o desassossego dentro da bolsa. E um par de asas que nunca deixo. Às vezes, quando é tarde da noite, eu viajo. E - sem saber - busco respostas que não encontro aqui. Ontem, eu perdi um sonho. E acordei chorando, logo eu que adoro sorrir... Mas não tem nada, não. Bonito mesmo é essa coisa da vida: um dia, quando menos se espera, a gente se supera. E chega mais perto de ser quem - na verdade - a gente é.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

quarta-feira, 13 de abril de 2016

não me leve
lave-me

limpe-me 
do limo
do limbo

dos limites 

livre-me


sábado, 9 de abril de 2016

Sobre o amor ...


Esta escultura chama-se Amor. Seu criador é o artista ucraniano Alexander Milov. Percebe-se o conflito entre duas pessoas, e também a expressão interior da natureza humana. Dois adultos se dão as costas, mas as crianças interiores procuram se aproximar.
Segue a explicação do autor:
Você pode tirar suas próprias conclusões sobre o significado do trabalho, mas isso é o que Milov escreveu sobre sua escultura no site do festival: “Isso demonstra um conflito entre um homem e uma mulher e a expressão interna e externa da natureza humana. Seu interior é moldado por crianças transparentes, que detêm as mãos pelas grades. Quando escurece, as crianças começam a brilhar. Esse brilho simboliza pureza e sinceridade que une as pessoas e dá a oportunidade de consertar as coisas quando chegar em tempos sombrios “.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Não tenho visto nada além de ti.
Todos os dias
Tem sido o teu rosto
E toda noite tua mão
E cada estrada
Tua voz me chamando.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016



 Era uma pedra só

[só de solitária]

Até uma flor nascer em

sua fresta

e ser a sombra de sua

solidão

Mas ainda era uma

pedra.


a minha própria prece
sou eu

os móveis, as paredes
a flor no vasinho 

e o barulho da chuva
me rezam

Há algo de sagrado
em ser sozinha.