sábado, 3 de setembro de 2016



Eu tenho medos absurdos e coragens absurdas e eu tenho você. Eu tinha coragens absurdas e discursos prontos como quem sabe que precisa se salvar do fatídico cotidiano da entrega. Não é assim que a gente sabe da nossa morte? A gente se entrega àquele segundo de adrenalina correndo pela veia e de repente já não tem mais nada. Escuta aqui, eu dizia, escuta que é o fim da minha vida neste agosto macilento. 

Enumerando todos os meus medos em ordem não-alfabética, risível e perfeitamente humana, não tanto compreensível:

- Medo de não me encontrar estável daqui 10 anos. Medo do abandono de mim mesmo. Medo de não encontrar você daqui 10 anos. Medo de você ter se abandonado.

- Medo de não arrumar emprego ou não conseguir mais empreender ...Sabe como é, o mercado está difícil e a pressão cotidiana do trabalhe-mais-porque-é-preciso tem acabado com as minhas esperanças solúveis de paz. O capitalismo consome a nossa alma e a gente ri.

- Medo de não conseguir escrever. De parar, do nada. De simplesmente não conseguir colocar para fora todas as minhas conversas silenciadas pela agonia do planeta. Eu sinto medo de não conseguir expurgar todas as vezes que me doo, me atiro nas avenidas e não volto.

- Medo de pecar por excesso. De não voltar à tona e surtar. Eu tenho medo de surtar. Eu tenho muito, muito medo de surtar. 

- Medo de não conseguir sobreviver em paz, amando plena e cuidadosamente. Eu tenho medo de não conseguir amar. Você sente isso também? Às vezes, no meu quarto, bate uma secura na alma. Uma vontade de correr. Uma vontade de arrancar qualquer prenuncio que me diga que não sou capaz de amar. Mas se eu amei você, que me abandonou na margem da plenitude, por que não conseguiria amar outro e outro e outro?

- Medo dos sertões estarem dentro de nós.

- Medo do golpe. E são tantos: políticos, sentimentais, afetivos. Eu me lembro de você me preterindo às vezes ... Ainda dói.

- Medo do mundo. Da vida. Das pessoas que, depois do término, viram a cara e esquecem. Passam e já não conversam mais. Faz parte, elas dizem. Faz parte do círculo vicioso da nossa miserável condição fria e inumana.

Coragens tão tolas e medos tão absurdos e eu não tenho você. Isto aqui era pra ser um texto.

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