terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um metro e setenta

Eu sou um metro e setenta de um corpo com lavas de vulcão correndo nas veias. Um metro e setenta. Um corpo. Uma alma. Um coração. Eu sou meus passos desengonçados e a minha mania estranha de admirar o céu - aquele tipo de coisa sem sentido. Porque eu só sei sentir, sabe? Sinto muito. Eu sou as palavras que se jogam da minha boca, sem o menor critério, e carregam um mundo de informações confidenciais. Um mundo, o meu. Tudo aqui vira motivo de poesia. Me mudo de lugar, escrevo sobre, e as letras confusas já começam a se debater em busca de um novo poema. É sempre assim, talvez num desejo louco de eternizar instantes efêmeros, talvez apenas para ocupar qualquer espaço ligeiramente branco do meu papel, ou da minha pele morena. Talvez as palavras, as tais das palavras, sejam uma tentativa desesperada de não enlouquecer.Talvez por isso eu crio, invento, danço e finjo ser a mulher mais feliz do mundo. Nem sei. Desconfio que poesia é mesmo não saber. Eu sou mulher, um metro e setenta de drama e contradição. E de alma(lê-se : muita alma) A lua, no meu jardim, é traiçoeira. Tão linda é, a lua. Eu sou, menino... Sim...eu sou menino, moleque, homem... as vezes me assusto com esse lado masculino em mim. Eu tento. Chovo sonhos a todo instante. Talvez eu não seja grande coisa, talvez eu deseje apenas ser tua.... Inteira. Sonhar junto contigo e escrever uma história nossa, vírgula por vírgula.... Sem vírgulas, sem pausas. Cansei desse negócio de recuar diante de coisas grandes, sabe? Minha alma sente sede da leve e louca sensação de vento no rosto.... Um metro e setenta tem esse lugar que carrego dentro do peito, onde cabemos os dois.... Porque ser mero espectador das coisas, simplesmente porque elas são fugazes?? Porque deixar para o futuro, o tempo decidir o que tanto queremos? Não. Aprendi a voar e posso levar quem eu quiser entre as minhas pernas. E eu quero você...
“As pessoas que não sabem viver sozinhas estão o tempo todo mendigando aprovação das outras. É preciso aprender a viver só, aprender a fazer silêncio, para poder conviver com o outro, porque dentro de cada um de nós mora uma grande solidão. Há um lugar dentro da gente que ninguém vai, somente nós. E nem nós mesmos sabemos como é esse lugar. Então temos que aprender a respeitar a solidão do outro e a nossa própria solidão. “ Rubem Alves

Se é bom ou se é mal

Um homem muito rico, ao morrer, deixou suas terras para seus filhos. Todos eles receberam terras férteis e belas, com exceção do mais novo, para quem sobrou um charco inútil para a agricultura. Seus amigos se entristeceram com isso e o visitaram, lamentando a injustiça que lhe havia sido feita. Mas ele só lhes disse uma coisa: “ Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá” No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as terras dos seus irmãos foram devastadas: Mas o charco do irmão mais novo se transformou em um oásis fértil e belo. Ele ficou rico e comprou um lindo cavalo branco por um preço altíssimo. Seus amigos organizaram uma festa porque coisa tão maravilhosa tinha acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: “ Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá” No dia seguinte seu cavalo de raça fugiu e foi grande tristeza. Seus amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que o homem lhes disse foi: [I]“ Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá Passados sete dias o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos cavalos selvagens. Vieram os amigos celebrar essa nova riqueza, mas o que ouviram foram as palavras de sempre: “ Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá” No dia seguinte seu filho sem juízo montou um cavalo selvagem. O cavalo corcoveou e o lançou longe. O moço quebrou uma perna. Voltaram os amigos para lamentar as desgraças: [“Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá”, o pai o repetiu. Passados poucos dias, vieram os soldados o rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços tiveram de partir, menos o seu filho de perna quebrada, os amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: “Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá” Assim termina a história, sem fim e com reticências (…) Ela poderá ser continuada, indefinidamente. Somos personagens dessa história também, aquilo de bom ou ruim que acontece conosco, devemos ser sábios para aceitar com resignação. Lembre-se: “Se é bom ou se é mal, só o futuro dirá” Rubem Alves

sábado, 20 de outubro de 2012

20.10.2012

Deixo o corpo cair na cama, olho ao redor: há tanta coisa para arrumar que não sei se começo por mim, pela palavra que pulsa na ponta da língua que evito pronunciar ou pelo amor que escondi em um canto qualquer, talvez embaixo da cama, talvez dentro do armário, enrolado em alguma camisa velha. O amor? Aquilo que um dia chamei de amor. O quadro na parede parece meio torto, também o dia de hoje. Torto e manco. Manco e amputado. É que hoje é um dia difícil, entende? Não sei explicar. Mas sei, você sabe, sempre fui demais obsessiva em rasgar com as unhas virtudes que não são minhas, cutucar feridas, ver meu olhar desfalecer enxergando em mim coisas que jamais vi antes. É que hoje é um dia difícil, mas a verdade é que eu não me lembro da última vez em que foi fácil. Tenho sido cruel comigo. Tenho medido força com as minhas próprias forças. Um café, quente. Lá fora a chuva não se decide; aqui dentro, frio. Fuço uma gaveta de lembranças e vejo que já sofri pra caralho. E, sim, já tive dias bons. Em dois mil e onze fui feliz, mas foi dois mil e doze entrar que eu chorei. Levei socos, tive febre, suei frio de saudades. Comprei uma história, briguei por ela. Pertenci a quem nem perto chegou. Me enganei, deixei-me enganar como o tal raio que não cai duas vezes no mesmo lugar e, veja só, ele cai. Eu pensei que já havia me acostumado à dor, mas, confesso: ainda choro. Por mim, pelo amor escondido em um canto qualquer, transtornado, de olhos abertos no escuro, pelo mundo que parece girar cada vez mais devagar adiando o momento de me fazer feliz e pelo dia que haverá de chegar em que eu não vou mais sentir saudades. Há tanta coisa para arrumar, e vou deixar assim. Desisti de tentar consertar falhas que não são minhas. Desconjunções. Desfaçatezes. Desobrigações. Des, des, des. Desisti dessa coisa de procurar sentido. E não me preocupo com o que você vai achar ou não. Vou deixar assim. Vou ficar aqui, deitada na cama, quieta, numa quase imobilidade absoluta, limpando apenas os meus olhos e feridas internas. Buscando qualquer mínima doçura que não rejeite essa minha estranha condição de ser eu. E o amor? Ah, o amor, o meu amor, hoje, é uma camisa velha embaixo da cama, esperando quem saiba vesti-la.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O meu amor tem um jeito manso que é só seu E que me deixa louca quando me beija a boca A minha pele toda fica arrepiada E me beija com calma e fundo Até minh'alma se sentir beijada O meu amor tem um jeito manso que é só seu Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos Com tantos segredos lindos e indecentes Depois brinca comigo, ri do meu umbigo E me crava os dentes Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz O meu amor tem um jeito manso que é só seu Que me deixa maluca, quando me roça a nuca E quase me machuca com a barba mal feita E de pousar as coxas entre as minhas coxas Quando ele se deita O meu amor tem um jeito manso que é só seu De me fazer rodeios, de me beijar os seios Me beijar o ventre e me deixar em brasa Desfruta do meu corpo como se o meu corpo Fosse a sua casa Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz http://www.youtube.com/watch?v=txLPlvkGiP4

Trinta e quatro

Eu, que há muito tempo deixei de parecer comigo e ainda me espanto com o fato de me reconhecer em meio às tantas outras “eus” que já passaram por mim. Que desejo esbarrar comigo num espelho e me encantar com os meus traços e me perguntar quem sou e dizer, flertando olhos-nos-olhos, que é uma sorte, embora seja tão difícil, me ser. Eu e as minhas quase-idas. Eu, que quase fui tantas vezes e em todas elas quis fugir de mim e, no entanto, sempre me encontro, e me vejo. E estou comigo, tão docemente me faço companhia quando o mundo se afasta. Eu, que sorrio do nada e faço bico quando choro. Que tenho um jeito direto que assusta muitas pessoas e um jeito tímido que muito me assusta. Que sou crítica, principalmente comigo. Que sou azeda, mas que sei ser muito doce, quando doce. Eu e esse medo meu de coisas bonitas. Eu, que costumo deixar a felicidade escorregar por entre os meus dedos e coloco a culpa nos calos de amor que tenho nas mãos e que doem, putaquepariu! como doem, quando algo os aperta. Eu, que acho graça ao me recordar o dia em que ele deixou cair palavras em minha pele suada. Que parei o mundo tantas vezes apenas para ver o segundo que antecedia o seu sorriso. Eu, que tropeço, desastrada, enquanto caminho, porque ando meio assustada e pensando muito nele. Que sou várias, depende de quem chama. Que tenho umas ondas de velhinha. Que prefiro teatro a cinema, cinema a baladas. Eu, observadora demais. Que procuro erros de português em todos os cantos. Que me calo quando muita gente fala ao mesmo tempo. Que tenho preguiça de gente. Eu, que brigo com minha escolha profissional todos os dias. Que todos os dias a peço em casamento. Eu, que só queria desaprender certas coisas e, no entanto, continuo incorporando conhecimentos dos quais não necessito. Que vivo em grave contenda comigo mesma e sou minha adversária audaz. Eu, que acho que viver dói pra caralho e que, às vezes, falo palavrão. Que, apesar das teorias, não sei o que é o amor. Que sou leiga. Que meu amor tem a humildade dos amores que nada têm a oferecer, a não ser a capacidade de aprender a amar ainda mais. Eu. Minhas cocas-zero. Meus episódios de Friends.Sessões de Terapia. Meus livros. Eu, que gosto da noite muito mais do que do dia. Que vivo, insone, em busca de um não-sei-o-quê tão bem escondido entre as estrelas. Que permito-me não querer o óbvio, o fato consumado, o estereótipo das possibilidades restritas; que quero sempre mais. Eu, que só incorporo, intransitivamente. Que vivo dessa absorção das coisas, ainda que tal simbiose não as torne minhas e eu me torne intensamente delas – que sou falha, eis a minha perfeição. Eu, que só incorporo, intransitivamente. Eu, que escrevi histórias na pele com as tintas que minha alma produziu. Eu e minhas doses de melancolia. Meus medos. Minha poesia. Meus trinta e quatro dez de setembro. Meus pedaços. Eu, que continuo a mesma de um ano atrás. Eu, tão absolutamente diferente de ontem. Eu que, em meio as minhas contínuas mudanças, continuo. Eu continuo. Continuo amor.

domingo, 14 de outubro de 2012

'Como não somos virtuosos, fingimos ser, é o que se chama polidez. Como não sabemos amar, fingimos amar, é o que se chama moral. E os filhos imitam os pais, que imitam os seus... O mundo é um teatro, a vida é uma comédia, em que, no entanto, nem todos os papéis se equivalem, e nem todos os atores.' Sponville

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Doi Escrever de volta aqui doi... Minha alma foi raptada... iludida...estraçalhada... outubro... ha 2 anos parei...mudei o foco.. cega guiada por alguem que acreditei Vivi 2 anos de mentira acreditando que era verdade ha 1 ano minha casa caiu literalmente caiu ha 1 ano me procuro de verdade volto sabia que ia voltar estava com saudades... mas...doi doi... nao consigo ler os escritos desse blog... me remetem a... deixa para lá volto volto inteira mais madura ferida ainda volto tentando me refazer volto por amor amor a Deus a mim a minha alma a minha vida... volto Mae Mae de novo mais filha mais irma mais profissional mais ... DOI Dor que nao passa Sangra ... volto Menos estetica...mais coração volto... volto... Nao sou mais a mesma... na verdade quem volta é o meu corpo... Vim tentar resgatar a minha alma... volto...volto em missão...