sábado, 20 de outubro de 2012

20.10.2012

Deixo o corpo cair na cama, olho ao redor: há tanta coisa para arrumar que não sei se começo por mim, pela palavra que pulsa na ponta da língua que evito pronunciar ou pelo amor que escondi em um canto qualquer, talvez embaixo da cama, talvez dentro do armário, enrolado em alguma camisa velha. O amor? Aquilo que um dia chamei de amor. O quadro na parede parece meio torto, também o dia de hoje. Torto e manco. Manco e amputado. É que hoje é um dia difícil, entende? Não sei explicar. Mas sei, você sabe, sempre fui demais obsessiva em rasgar com as unhas virtudes que não são minhas, cutucar feridas, ver meu olhar desfalecer enxergando em mim coisas que jamais vi antes. É que hoje é um dia difícil, mas a verdade é que eu não me lembro da última vez em que foi fácil. Tenho sido cruel comigo. Tenho medido força com as minhas próprias forças. Um café, quente. Lá fora a chuva não se decide; aqui dentro, frio. Fuço uma gaveta de lembranças e vejo que já sofri pra caralho. E, sim, já tive dias bons. Em dois mil e onze fui feliz, mas foi dois mil e doze entrar que eu chorei. Levei socos, tive febre, suei frio de saudades. Comprei uma história, briguei por ela. Pertenci a quem nem perto chegou. Me enganei, deixei-me enganar como o tal raio que não cai duas vezes no mesmo lugar e, veja só, ele cai. Eu pensei que já havia me acostumado à dor, mas, confesso: ainda choro. Por mim, pelo amor escondido em um canto qualquer, transtornado, de olhos abertos no escuro, pelo mundo que parece girar cada vez mais devagar adiando o momento de me fazer feliz e pelo dia que haverá de chegar em que eu não vou mais sentir saudades. Há tanta coisa para arrumar, e vou deixar assim. Desisti de tentar consertar falhas que não são minhas. Desconjunções. Desfaçatezes. Desobrigações. Des, des, des. Desisti dessa coisa de procurar sentido. E não me preocupo com o que você vai achar ou não. Vou deixar assim. Vou ficar aqui, deitada na cama, quieta, numa quase imobilidade absoluta, limpando apenas os meus olhos e feridas internas. Buscando qualquer mínima doçura que não rejeite essa minha estranha condição de ser eu. E o amor? Ah, o amor, o meu amor, hoje, é uma camisa velha embaixo da cama, esperando quem saiba vesti-la.

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