sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O inferno são os outros...


Fechava os olhos e continuava a correr...
Quando achava que o coração explodiria e a garganta se abriria para que os pulmões pudessem se expandir por ela, parava um pouco e andava apenas muito depressa naquela chuva fina que caía. nada de importante, apenas o suficiente para irritar pelas finas gotas que caíam machucando-lhe o rosto.Apertava o passo, sem saber se iria chegar onde queria, ou onde queria chegar talvez fosse o que não sabia, mas trazia consigo os fones de ouvido e a surrada bolsa carteiro a tiracolo.O barulho das ruas nem de longe diminuíam a sensação dos gritos em sua cabeça. Pedia por favor para pararem, mas aqueles gritos, e choros e apelos infantis não lhe deixavam pensar ou ouvir mais nada. Era mais que perseguição, estava em todo lugar. Os fones agora eram inúteis.Então acelerava, e acelerava, e a chuva antes fina parecia engrossar. Tal qual sua angústia diante daquilo tudo. E se chegasse em casa, o que encontraria? O que diria? Entraria sem dizer nada como o costume e enfrentaria aqueles pequenos olhares inquisidores a lhe questionar por onde andava? E se não fosse para casa, o que lhe esperaria? Em que quarto se esconderia?De olhos fechados continuava a correr. Poderiam pensar que era de ladrão, que perdera o horário, o ônibus, ou apenas tinha pura ansiedade, e corria. Agora molhava-se mais e mais naquela chuva, no calçadão da praia, a bolsa pesava embebida em toda aquela água, mas agora seu rosto era machucado pelo quente das lágrimas que desciam grossas por suas faces. Não saberia explicar o motivo delas, apenas sentia aquele aperto agoniante nos olhos, como se lavasse a alma de dentro pra fora enquanto a chuva lavava seu corpo de fora pra dentro. Era maior do que si. Mergulhava mais e mais naquela espécie de hipnose física: barulho de água nos ouvidos, coração acelerado da corrida, o choro das crianças em sua cabeça, as buzinas dos carros em seus ouvidos...Não havia visto a reforma da calçada e menos ainda o buraco cheio de pequeninas pedras em seu caminho, inevitavelmente foi ao chão.Agora sentia que parecia também uma daquelas crianças, e quis chorar mais ainda, olhando em volta todos lhe olharem. Apertou ainda mais os olhos, contendo tudo o que podia em si, concentrando-se para querer acordar se aquilo fosse um pesadelo.... não era...era a realidade da sua vida...ela chorou, chorou mais ainda. Deitou no banheiro daquele manicomio o qual ela estava internada e dormiu esgotada sob efeito de calmantes...

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