terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

de repente ... fim

 
De repente fim. Eu sem ter você, você sem ter a mim, e esta coisa frágil fica em pedaços no chão, caída como uma morta que nunca gozou a vida. Ingrata coisa é essa, que enterra com as patas traseiras os cacos que não podem se defender do destino no fundo de um cesto de esquecimento. Não há cola que conserte as trincas, nem mãos diligentes o suficiente para catar os menores fragmentos dos vãos dos tacos. Pedaços eternamente faltarão, assim como fará falta na estante tão lindo ornamento. Olhando mais de perto é possível ver a silhueta que o pó deixou na madeira que envelheceu ao redor da peça de porcelana, deixando evidente uma pequena ilha de novos ares a tanto escondida debaixo de anos de esquecimento, sendo ela tão valiosa e tão sensível que nem mesmo com espanador era permitido tocá-la. O dono chorará sua perda, lembrará do quanto lhe foi caro adquirí-la ou até mesmo da tamanha estima que lhe tinha por ter sido um presente tão raro, atribuindo-lhe significados inexistentes até a consciência de tê-la perdido para sempre. Cessarão as lágrimas dentro em pouco, alguma outra velharia tomará o lugar marcado pelas arestas de algo antes tão belo, e esta nova alegoria logo se tornará tão velha quanto a anterior, irrelevante até ser derrubada no chão por uma limpeza desastrada. E as marcas acumular-se-ão, uma após a outra, deixando no centro de todas elas uma mancha muito menor e mais clara do que todas juntas, até que ali não exista mais traços do antigo vaso presenteado por já não se sabe mais quem, perdido na completude de sua total e atual inexistência.

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