terça-feira, 6 de novembro de 2012

É coisa sem métrica, sem rima, sem regras. São palavras soltas - soltas, sabe? Livres. Não cabem pontos finais nem vírgulas nem parágrafos. Simplesmente acontece. É poesia. É a ausência de sentido. É a distração diante de qualquer papel ligeiramente branco, sílabas que se formam desproposital e involutariamente, em hora imprópria, no trabalho, no ônibus, na aula. São os anos que passam, as estações, os desencontros. É recomeçar. Porque tudo, absolutamente tudo, gira em torno do próximo passo, do segundo que se aproxima, dos rumos outros que os olhos inventam. É vestir-se de tristeza, é despir-se e permitir que as cicatrizes apareçam. É sangrar - sim, sangra, podes ver? É coisa de sentir. É fotografar a alma com uma câmera invisível, imortalizar um por do sol, é eternizar e musicar o dia a dia. São versos desconexos as duas e trinta e cinco da madrugada, tentando ser uma declaração boba de amor. É inventar amor. É arrepiar o corpo em um instante de felicidade, e saber voltar para a solidão. É ser amigo da solidão. São os surtos de saudade e de carência. É não saber. É ter unhas afiadas apenas para se agarrar nos braços alheios e pedir socorro, silenciosamente. É abraço dado. São todos os sonhos de abraços não-dados. É um abismo necessário. É sentir o impulso do voo nas entranhas. É saber que a consequência do voo, para os que não têm asas, é a queda, mas ir. É poesia. Até quando não deveria ser, é.

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