segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010













”Amar, é morrer aos poucos, mas não amar é o purgatório em vida.” – Stealing Heaven
Uma face de Paris que me fascina, é o fato que a cidade inspira e sempre inspirou o amor. Paris tem vocação romântica entranhada em cada rua. Minha história de amor favorita, aconteceu na Paris Medieval, século XII.

Me encantei pela linda e triste história de amor de Abelardo e Heloísa, quando assisti pela primeira vez ao filme “Stealing Heaven” (traduzido “Em Nome de Deus” no Brasil) , filme de 1988, que eu devo ter visto pela primeira vez há uns idos 13 anos. Até hoje é um dos meus filmes favoritos, toda vez que assisto, eu choro da metade para o final.

A história tem várias versões contadas e é conhecida principalmente através das cartas que os amantes trocavam. Pedro Abelardo (1079-1142) era um grande filósofo e teólogo, nasceu em Le Palais, filho de um pequeno nobre francês, o que o concedeu acesso aos estudos. Em 1116, Abelardo já era o maior professor de Paris, lecionava na cátedra de Teologia e Dialética em Notre-Dame. Foi nessa época que conheceu Heloísa (1100-1164), mulher de inteligência notável, totalmente atípica para época: no medievo as mulheres podiam aspirar apenas o casamento ou carreira religiosa. Pouco se sabe como Heloísa se formou como livre pensadora com conhecimento superior até aos homens de sua época.
As várias versões relatam que Abelardo e Heloísa se amaram a primeira vista, a cena do filme é lindíssima, mas vou deixar para quem for assistir descobrir. Há quem diga que Heloísa já conhecia a fama de Abelardo como grande mestre, mas que sem sucesso tentava encontrá-lo pessoalmente. Fato é que os dois se conheceram, Abelardo tornou-se tutor de Heloísa, e eles se apaixonaram irremediavelmente, muito por causa do amor que os dois dedicavam ao conhecimento.

A situação entretanto, não era tão simples. Na Idade Média, filósofos e professores eram celibatários, o que se tornou um conflito para os dois tomados por um sentimento totalmente fora dos padrões da época. Além disso, as mulheres não tinham autonomia, o que tornava Heloísa, propriedade de seu tio e responsável por ela, que pretendia fazer de seu casamento um bom negócio.

Como vocês devem imaginar, Abelardo e Heloísa acabaram ficando inevitavelmente juntos… pensem em duas pessoas se amando tanto e estando juntas sempre… pois é! Mas esse amor nada ortodoxo começou a despertar rumores, dada a fama da figura de Abelardo e as tradições medievais. Aí que o problema começou.
No filme, uma de minhas cenas favoritas, é quando os dois, ainda juntos, felizes e apaixonados, passeiam pelos arredores do Rio Sena, e Heloísa corre para pegar uma pena de pombo, segundo ela, símbolo do amor. E ela diz a Abelardo que aquela seria sua relíquia sagrada, porque ela nunca poderia ser mais feliz do que já era naquele momento. Eu não sei vocês, mas essa plenitude de amor me intriga e me emociona muito… imaginem como é, estar com alguém e ter a consciência que se está vivendo um momento de felicidade plena?

Mas como muito sabiamente, Jesus já havia dito, que “a felicidade não é desse mundo”, e como sabemos que nada dura para sempre… as coisas complicaram quando Heloísa ficou grávida, e teve que fugir e se esconder a ira de seu tio. Abelardo a alojou na casa de sua irmã, onde ela viveu alguns anos com o bebê. Alguns contam que os dois se casaram escondido, para que ela pudesse se livrar do jugo do tio. Outros contam, que como mulher à frente do seu tempo, Heloísa não aceitou se casar, para que Abelardo prosseguisse com sua carreira de professor. A maior tragédia dos dois, foi a castração de Abelardo, contratada por Fulbert, tio de Heloísa
Traumatizado com o ocorrido, e considerando um castigo pelo seu “desvio” Abelardo resolve seguir carreira de padre, e sugere que Heloísa siga também carreira religiosa, uma vez que não tinha família ou amigos.

E assim, a vida dos dois toma rumos diferentes. Alguns contam que deprimidos, os dois nunca mais se viram, outras versões, dizem que eles se encontraram mais vezes mas nunca mais se falaram, apenas trocaram cartas. No filme, Heloísa diz ao seu amado, que seria uma freira, mas não por amor a Deus, e sim para poder vê-lo de quando em quando, e poder beijar sua mão [essa história é corroborada por uma das cartas de Heloísa, onde ela confessa amar a Abelardo acima de qualquer coisa e somente cumprir as obrigações religiosas como prova de amor ao seu amante terreno, que lhe houvera pedido para entrar em um convento]. De qualquer forma, as cartas existem, e dão notícias do acontecido…



“Fujo para longe de ti,
evitando-te como a um inimigo,
mas incessantemente
te procuro em meu pensamento.
Trago tua imagem em minha memória
e assim me traio e contradigo,
eu te odeio, eu te amo.”
Carta de Abelardo a Heloísa.



“É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo.”
Carta de Heloísa a Abelardo

O que mais mexe comigo nessa história, e que me deixa inconsolável quando assisto ao filme, é o fato de se encontrar o seu grande amor, um relacionamento perfeito, a raridade de se sentir complementado pelo outro, e não poder vivê-lo. Ver a vida toda passar, amar somente àquela pessoa, e nunca mais a ver. Na versão cinematográfica, após anos e anos, eles se encontram, com a mesma emoção do passado, as mesmas declarações de um amor que não morre, e Abelardo então faz um pedido final à sua amada, que eles pudessem ao menos serem enterrados juntos.
Abelardo e Heloísa estão enterrados juntos no Pére Lachaise, em Paris. Até hoje, amantes visitam seu túmulo e lhes deixam flores…

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